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Em carta infra, enviada à PSA, a Federação junta a sua voz à dos trabalhadores do Terminal de Contentores de Sines – TCS, na sua luta por melhores condições remuneratórias e laborais, criticando o taticismo daquela empresa ao remeter-se ao silêncio, perante as iniciativas dos dirigentes do Sindicato que, por desprezadas ou ignoradas, não deixaram a estes outra alternativa: a emissão de um pré-aviso de greve.
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23 de abril de 2019
À Exma. Administração da PSA
Na minha qualidade de presidente da FNSTP-Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores Portuários, venho exprimir a minha crítica ao comportamento da administração dessa empresa, perante as propostas de diálogo e de negociação apresentadas pelo sindicato nosso filiado que representa os trabalhadores portuários da PSA.
A lisura negocial é irremovível marca e carisma dos nossos sindicatos no seu relacionamento com quaisquer entidades patronais. Não é exceção o comportamento e o trato dos dirigentes do nosso filiado nesse porto, o sindicato XXI, perante V. Exas.. Por norma, sempre as questões laborais nesse porto foram resolvidas em ambiente de discussão serena, colaborante e responsável, sem radicalismos.
Desde há meses que, sentindo a justificada insatisfação dos trabalhadores nele filiados, sobretudo no capítulo remuneratório, aqueles dirigentes têm persistentemente buscado, sempre com cortesia, junto dessa administração uma fórmula consensual de solução equilibrada, que compatibilize eficazmente os requisitos de produtividade com os da racionalidade económica, os de competitividade e os de justiça salarial, no interesse comum da empresa e do seu pessoal.
Lamento ter que reconhecer e, agora, denunciar a falta de respeito com que as iniciativas dos dirigentes do sindicato XXI foram encaradas: desprezadas ou ignoradas.
Compreenderão que, ao fim de tanto tempo, em face da ansiedade dos trabalhadores, o silêncio, a inércia e a fuga ao diálogo de V. Exas., ostensivamente tática, não podem deixar de ser interpretados como uma estratégia que, julgo, os trabalhadores portuários de Sines não merecem nem esperariam.
Não se poderá, pois, estranhar que o sindicato XXI, comprovadamente avesso ao extremismo, e valendo-se da autoridade moral que decorre do seu irrefutável curriculum de cordialidade e da permanente disponibilidade para o diálogo e cooperação institucional, em ambiente de paz laboral, tenha agora tido, neste anormal contexto de alheamento sistemático da PSA, necessidade de recorrer a um expediente reivindicativo que não faz parte do seu historial nem do seu modo típico de agir. Só por isso é que, como recurso extremo, a declaração de greve no porto de Sines foi produzida.
Nós, sindicalistas democráticos, não estamos de costas voltadas para os nossos parceiros, sobretudo os empresariais; mas também não gostamos nem aceitamos que nos virem displicentemente as costas.
Que não venha a PSA a invocar esta desagradável medida como uma imerecida agressão, apresentando-se como pretensa vítima de uma injustificada ameaça de greve, e usando-a como pretexto para justificar a sua inércia negocial, quando, na verdade, toda a responsabilidade lhe cabe só a si, por ter protelado o diálogo, provocando o descontentamento dos trabalhadores, do Sindicato e agora desta Federação Nacional.
Francamente: o pretexto da lonjura da sede asiática não poderá servir de argumento para desculpar a indesculpável falta de resposta a um interlocutor local.
Francamente também: querer taticamente ligar o calendário da terceira fase de investimentos à circunstâncias de uma anunciada greve, é tão somente um insulto à inteligência dos trabalhadores e de quem os representa. Pergunte-se: o que tem a ver isso com uma negociação salarial adiada pela própria PSA? E, se o ambiente laboral é, alegadamente, tão relevante e perturbante, porque é que a PSA o fomentou e nada fez para o prevenir?
Cumpre-me, assim, responsabilizar a administração da PSA pelo indesejado conflito gerado no terminal XXI.
E, alimentando frouxa esperança de mudança de atitude estratégica da PSA, não deixo de aqui lhe fazer apelo ao sentido de razoabilidade, ao mesmo tempo que se espera o envolvimento das entidades mais diretamente ligadas ao porto, confiando na movimentação esclarecida destas para se conseguir, através do diálogo assente num compromisso sério, resolver com justiça um problema de solução simples e evitar as consequências de um conflito desnecessário.
Com respeitosos cumprimentos,
O presidente da direção da FNSTP,
Aristides Peixoto
CC: APS-Autoridade Portuária de Sines, Comunidade Portuária de Sines e Laborsines